Isabella Koster, Laís Jannuzzi, Beatriz Soares, Roberta Goldstein, Isabela Santos e Rosane Marques
Promover e garantir o direito à saúde pública de qualidade para os povos originários ainda é um desafio para o Brasil do século XXI. Invasão de territórios tradicionais, violação de direitos, desmatamento acelerado e pandemia são algumas das principais ameaças à garantia do bem-estar físico e mental indígena, seus saberes e práticas tradicionais, aspectos essenciais que integram o conceito de bem-viver entre os povos indígenas. Por mais que a medicina ocidental seja hegemônica em nosso país e tenha maior visibilidade, atualmente existem diretrizes do Sistema Único de Saúde (SUS) para garantir o acesso a um cuidado diferenciado com ênfase na integralidade e no respeito à diversidade cultural, social, histórica e política dos povos indígenas.
Levando todos esses aspectos em consideração, algumas pesquisas que fazem parte da Rede PMA APS estão empenhadas em desenvolver produtos e resultados aplicáveis que possam provocar mudanças nas práticas e serviços de saúde ofertados no SUS para o benefício das populações indígenas. Para que isso ocorra, o envolvimento de interlocutores indígenas no dia a dia ‘do pesquisar’ é fundamental para construção de espaços interculturais. Nesse caso, estamos falando da articulação e coprodução de conhecimento, produtos e resultados de pesquisa em comunhão com indígenas e trabalhadores da saúde e de outras áreas.
Duas dessas pesquisas da Rede têm em comum a investigação sobre como se organiza a rede de cuidados e de atenção à saúde no nascer indígena. A outra aborda a temática envolvendo os impactos do garimpo ilegal e da contaminação pelo mercúrio na saúde do povo Munduruku.
Na Fiocruz Mato Grosso do Sul, Renata Picolli e Débora Dupas coordenam a equipe de pesquisadores indígenas e não indígenas na avaliação sobre a cobertura e a qualidade do pré-natal e parto em dez municípios do estado. Está sendo desenvolvido um inquérito que subsidiará a elaboração de uma Linha de cuidado da gestante e puérpera indígena. Em recente entrevista ao Boletim Ciência, Renata revela detalhes importantes sobre o passo a passo da pesquisa, as parcerias realizadas e o engajamento de profissionais da rede, dos Distritos Sanitários Especiais Indígenas (DSEI) e indígenas. Ela conta que suas expectativas são positivas para alcançar mudanças no cuidado e nascer indígena.
Nessa mesma linha, Júlio Schweickardt, do ILMD/Fiocruz Amazônia, e Camila Pimentel, do IAM/Fiocruz Pernambuco, pesquisam sobre a inserção das Parteiras Tradicionais Indígenas na APS em áreas ribeirinhas do Amazonas. A intenção das parcerias entre os pesquisadores e gestores estadual e municipais, DSEI/Médio Rio Solimões e Afluentes, Universidade do Estado do Amazonas, Instituto de Desenvolvimento Sustentável – Mamirauá e Associação das Parteiras Tradicionais do Amazonas Algodão Roxo é mobilizar a coprodução do conhecimento. Destaca-se que o reconhecimento das parteiras se dá pela sua importância social, cultural e da sua ancestralidade para o nascer indígena e, portanto, se propõe um cuidado pautado no diálogo com a Rede de Atenção à Saúde da Mulher para a sua inserção. O Manual das Parteiras será um dos produtos, fruto dessa interlocução. Há uma entrevista ao Boletim Ciência no Youtube.
Na Região do Rio Tapajós, a terceira pesquisa desperta e mobiliza a comunidade indígena e trabalhadores do DSEI para as estratégias de luta contra a expansão de atividades ilegais nos territórios tradicionais e o cuidado à saúde considerando os efeitos do garimpo ilegal e da exposição ao mercúrio na saúde dos indígenas Munduruku. A pesquisadora Ana Claudia Vasconcelos, da EPSJV/Fiocruz, e o pesquisador Paulo Basta, da Ensp/Fiocruz, estão em permanente interlocução com lideranças e professores indígenas e desenvolvem oficinas para produção de materiais didáticos e paradidáticos na língua Munduruku e em português. A produção musical também é uma forma na qual os pesquisadores disseminam as informações. Para a educação profissional, estão realizando cursos de atualização que colaboram com a prática de cuidado dos trabalhadores do DSEI na identificação, tratamento e orientação da população exposta ao mercúrio, incluindo seus efeitos sobre a saúde materno infantil.
As três pesquisas mostram caminhos para alcançar as premissas do Programa de Políticas Públicas e Modelos de Atenção e Gestão à Saúde (PMA/VPPCB) ao promover interlocuções e experimentar as vivências científicas no desenvolvimento do conhecimento. Os resultados de pesquisa, dialogados com pessoas inseridas no contexto da Saúde Indígena, colaboram para efetivação das diretrizes do SUS.
Para conhecer mais sobre o programa PMA, acesse o Portal.
Créditos das fotos:
1ª) Autor: Paulo Basta / Novembro de 2019 / Terra Indígena Sawré Muybu, Pará
2ª) Autor: Jhon Tailor / Dezembro de 2020 / Amambai – MS
3ª) Autor: Claudioney Guimarães / Novembro de 2019 / Tefé, Amazonas
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Fonte: Fiocruz