Atenção Primária à Saúde diante das necessidades e singularidades amazônicas

Introdução: A forma como a APS deve se organizar e atuar diante de singularidades existentes nos territórios rurais ou remotos tem levantado discussões. A literatura internacional vem se dedicando a analisar os fatores que influenciam a cobertura, qualidade e capacidade de resposta dos serviços de APS nas localidades que apresentam reduzido número de pessoas, dispersas em grandes distâncias e que apresentam dificuldades de acesso aos centros urbanos. A Amazônia, em que pese sua heterogeneidade geográfica e populacional, é um dos cenários onde estas condições são evidenciadas em uma parte significativa do seu território; entretanto, ainda prevalecem lacunas nas políticas e pesquisas na área da saúde dedicadas a esse tema. Objetivo: Analisar como os serviços de APS se organizam e se estruturam diante das necessidades e singularidades amazônicas. Métodos: Revisão de Escopo que incluiu estudos que focaram na APS na Amazônia, realizados entre 2000 e 2019; um Estudo de Caso na localidade Cuieiras situada na área rural de Manaus, com dados obtidos a partir de um Inquérito Domiciliar, Observação Participante e Entrevistas Semiestruturadas com gestores e profissionais. Resultados: A Revisão de Escopo incluiu 25 estudos. Destes, 11 apresentaram resultados promissores quanto ao funcionamento da APS na região amazônica, outros 14 apresentaram desafios e dificuldades nesse sentido. Algumas estratégias de APS implementadas na Amazônia mostraram impactos positivos na região, principalmente quando envolveram ações que, por meio de inovações, buscaram se adequar às singularidades locais. O mal preparo dos profissionais para atuar em áreas rurais e a abordagem restrita, com ênfase nos aspectos biomédicos foram as questões que estiveram mais relacionadas aos desafios e dificuldades, implicando em impactos negativos. Os achados do Estudo de Caso revelaram a relevância da inclusão de modelos de unidades adaptadas para região amazônica na PNAB, os quais significaram apoio institucional e recursos para a atuação em áreas rurais e remotas. Em contrapartida, a análise demonstrou limites para o desenvolvimento de ações sustentáveis e qualificadas na localidade estudada, os quais se relacionaram com a invisibilidade das singularidades presentes no contexto rural para o país, em especial o rural amazônico, implicando em problemas na forma como gestores e profissionais significam o lugar e no predomínio de uma atuação focada em um padrão urbano que considera os aspectos físicos próprios do contexto amazônico como obstáculos para a atuação dos serviços de saúde. A análise revelou ainda que atuação dos serviços de APS tem como pano de fundo relações de poder desequilibradas. Tais relações, existentes desde as estruturas mais amplas, invisibilizam e excluem as singularidades amazônicas. Esse desequilíbrio influencia as relações entre profissionais de saúde e as pessoas atendidas no local, o que pode ser identificado na limitada aproximação dos profissionais com o lugar e na adoção de práticas hegemônicas pelos profissionais de saúde, situações que tendem a reforçar as fragilidades e constranger a participação das pessoas na construção dos serviços. Conclusões: O conhecimento sobre o que tem sido ofertado em termos de serviços de APS para Amazônia revelou possibilidades inovadoras de atuação de serviços de saúde para áreas fora das localidades urbanas. No entanto, também evidenciou desafios, entre eles o desconhecimento sobre o que seria ideal para os serviços de APS nessa região, o número reduzido de estudos sobre esse tema e desequilíbrios nas relações de poder que impactam a prestação de serviços na Amazônia rural. Os achados destacaram que além do desafio de alcançar as pessoas diante das especificidades do território amazônico, os serviços de saúde são responsáveis por contribuir para a transformação das condições de vida e romper com fatores geradores de vulnerabilidades. Nesse sentido, há a necessidade de pesquisas que foquem em formas de construção de serviços de saúde em cooperação com pessoas assistidas que resultem no empoderamento das pessoas e na construção de serviços de saúde mais sustentáveis e adaptados nas regiões amazônicas.

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Autores
Amandia Braga Lima Sousa
Países
Brasil
Periódico
Todos
Idioma
Todos
Ano
2022
Própria
1
Tipo
Tese